Vencedor do

Prémio José Saramago 2024

Com o romance inédito Morramos ao menos no porto, o escritor português Francisco Mota Saraiva é o vencedor do Prémio Literário José Saramago 2024.

O júri da 13.ª edição do Prémio Literário considerou, nas palavras de Adriana Lisboa, vencedora do mesmo prémio em 2003, que Morramos ao menos no porto é "um romance impiedoso" e "corajoso", com "uma qualidade quase musical" e "um estilo muito próprio”, como se tivesse “um idioma particular".

O romance Morramos ao menos no porto vai ser publicado em breve pela Porto Editora, em Portugal, e pela Globo Livros, no Brasil.

Uma parteira recebe meninas para fazer abortos, um sargento que se acha coronel persegue macaquinhos no parque, um passador leva meninos a salto para lá da fronteira; a meio caminho, um desastre na berma duma estrada; um rapaz em movimento que não sai do mesmo lugar; e há ainda uma nau catrineta que se afundou além-mar.

Entretanto, noutra dimensão, a história acompanha Silvina: um corpo defunto numa cadeira de baloiço, cujos odores se misturam nos sumidouros da cidade, entre flores e balões, confundindo dois cães. Passaram vinte e cinco anos do seu casamento com António, o narrador e protagonista que embala a tristeza da viuvez enquanto cuida as feridas de um corpo morto - ele é uma voz sumida, perdendo-se num labirinto de palavras. Mas é também a voz dos mortos que murmuram debaixo do chão da sua casa.

Romance que abala os fundamentos da narrativa clássica, Morramos ao menos no porto é um fogo que alastra até consumir todas as suas personagens. E que revela Francisco Mota Saraiva como uma voz poderosa na nossa literatura.

Vencedor do Prémio Literário Revelação
Agustina Bessa-Luís 2023

“Aqui Onde Canto e Ardo”, original vencedor, em 2023, do Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís, passado entre Tete (Moçambique), Lisboa e Serpa (na aldeia imaginária de Magos), com vagas referências aos períodos colonial e pós-colonial, pretende ser um conjunto de diversas narrativas que, entrelaçadas umas nas outras, e através de um coro de oito vozes, de algum modo se unem para contarem a história do absurdo da morte, tanto através da imagística como do quotidiano mais corriqueiro.

Apesar das diversas narrativas se construírem como quase contos isolados, há toda uma amálgama de pormenores e detalhes que vão surgindo aos olhos do leitor como aparentemente supérfluos e secundários, mas que servem para, a final, contar a história única da fragilidade e do desconcerto do ser humano perante a sua condição fatal. A par disto, há relações proibidas ou devastadas pela raça, pela condição social, pelo passado, por aquilo que nos torna inevitavelmente mais frágeis.

Depois, há o luto; e nada mais sobra.