Vencedor do

Prémio José Saramago 2024

Francisco Mota Saraiva nasceu em Coimbra, em 1988, e vive em Lisboa, Portugal.

É licenciado em Direito, pela Universidade Nova de Lisboa, e tem um mestrado em Direito e Gestão, pela Nova School of Business and Economics.

Em 2021, foi-lhe concedida uma bolsa de criação literária, pela Direcção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, e, em 2023, uma residência literária pela Fundação Eça de Queiroz.

«Aqui Onde Canto e Ardo» foi o seu primeiro romance e venceu, em 2023, o Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís, tendo o júri destacado a sua "riqueza vocabular e os cruzamentos com figuras da cultura ocidental, que dão ao texto uma maturidade estilística com assinalável alcance literário". Foi igualmente considerado um dos 30 melhores livros do ano 2024 pelo Jornal Expresso, um dos 30 melhores livros de ficção em português do ano 2024 pela Revista Visão e um dos 20 melhores livros do ano 2024 pelo Centro Nacional de Cultura. Em 2025, foi-lhe atribuído o Prémio Literário Fundação Eça de Queiroz / Fundação Millennium bcp, destacando-se, nas palavras do júri, "enquanto exercício literário ambicioso, designadamente no que diz respeito à sua complexidade formal" e "que dialoga com vozes marcantes da narrativa portuguesa contemporânea, procurando uma sua actualização".

Em 2024, foi distinguido com o Prémio Literário José Saramago, com o inédito «Morramos ao menos no porto», considerado pelo júri como um romance "impiedoso" e "corajoso", com uma "qualidade quase musical", e publicado, em 2025, em Portugal e no Brasil.

Uma parteira recebe meninas para fazer abortos, um sargento que se acha coronel persegue macaquinhos no parque, um passador leva meninos a salto para lá da fronteira; a meio caminho, um desastre na berma duma estrada; um rapaz em movimento que não sai do mesmo lugar; e há ainda uma nau catrineta que se afundou além-mar.

Entretanto, noutra dimensão, a história acompanha Silvina: um corpo defunto numa cadeira de baloiço, cujos odores se misturam nos sumidouros da cidade, entre flores e balões, confundindo dois cães. Passaram vinte e cinco anos do seu casamento com António, o narrador e protagonista que embala a tristeza da viuvez enquanto cuida as feridas de um corpo morto - ele é uma voz sumida, perdendo-se num labirinto de palavras. Mas é também a voz dos mortos que murmuram debaixo do chão da sua casa.

Romance que abala os fundamentos da narrativa clássica, Morramos ao menos no porto é um fogo que alastra até consumir todas as suas personagens. E que revela Francisco Mota Saraiva como uma voz poderosa na nossa literatura.

Vencedor do Prémio Literário Revelação
Agustina Bessa-Luís 2023

“Aqui Onde Canto e Ardo”, original vencedor, em 2023, do Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís, passado entre Tete (Moçambique), Lisboa e Serpa (na aldeia imaginária de Magos), com vagas referências aos períodos colonial e pós-colonial, pretende ser um conjunto de diversas narrativas que, entrelaçadas umas nas outras, e através de um coro de oito vozes, de algum modo se unem para contarem a história do absurdo da morte, tanto através da imagística como do quotidiano mais corriqueiro.

Apesar das diversas narrativas se construírem como quase contos isolados, há toda uma amálgama de pormenores e detalhes que vão surgindo aos olhos do leitor como aparentemente supérfluos e secundários, mas que servem para, a final, contar a história única da fragilidade e do desconcerto do ser humano perante a sua condição fatal. A par disto, há relações proibidas ou devastadas pela raça, pela condição social, pelo passado, por aquilo que nos torna inevitavelmente mais frágeis.

Depois, há o luto; e nada mais sobra.